quinta-feira, 5 de março de 2009

A CURIOSA LIBERDADE´

Por Vilmar Serighelli

Algumas coisas curiosas e engraçadas acontecem em nossas vidas e ao nosso redor. Uma delas, por exemplo, é a eterna busca do ser humano pela liberdade. Hasteiam-se bandeiras em seu nome, luta-se, morre-se e mata-se por esse dito direito “inalienável” do ser. Mas o que será essa tal de liberdade que tanto almejamos para cada um de nós? Será que TODOS queremos dizer a mesma coisa quando nos referimos a ela? Na realidade essas e outras tantas perguntas são mais capciosas do que aparentam ser.
Para aguçar a nossa imaginação e ser válida a reflexão em torno do termo, penso ser interessante olharmos o que nos diz um dos mais conhecidos Dicionário da Língua Portuguesa, do Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, onde a palavra “liberdade”, por si só, apresenta onze significados enumerados, sem contar com as diversas expressões das quais fazem parte. É bom, também, não esquecer que alguns desses significados são bastante contraditórios entre si e que para colocar mais água na fervura, tais contradições parecem ser necessárias. Por exemplo, a “Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação” essa definição nos parece bastante atraente e seria de certa forma, bastante confortável, mas pessoalmente não gostaria que uma pessoa que me desejasse algum mal tivesse tamanha liberdade, você não acha?
A solução para esse mal “estar”, (solução para esse “mal”) está no próprio dicionário, com outro significado: “Poder de agir, no seio de uma sociedade organizada, segundo a própria determinação, dentro dos limites impostos por normas definidas”, ou ainda na seguinte definição: “Faculdade de praticar tudo quanto não é proibido por lei”.
Diante do exposto acima, parece ser evidente a necessidade de limitar a prática dessa liberdade para conseguirmos sobreviver em sociedade, que é a base para podermos EXERCER o direito de sermos livres. Isso, não chega a ser contraditório e cômico? Talvez! É triste vermos que não podemos ser inteiramente livres por não sabermos sequer lidar com a liberdade total. O pior ainda é não sabermos ao certo que tipo de liberdade se aplica a cada momento de nossas vidas.
Diante da conduta social e desordeira de uma pequena minoria (pois temos a absoluta certeza de que a maioria das pessoas neste país são pessoas de bem), é a forma de expressão dessa liberdade. Em sala de aula, quando se interroga qualquer aluno sobre o significado de liberdade, invariavelmente a resposta seria mais ou menos a seguinte: “é o direito de ir e vir, de onde quer que seja, para qualquer lugar, sem restrições”. Por mais incrível que pareça, ao dar essa resposta, normalmente, eles se achariam tranqüilos, como se tivesse esgotado o assunto!
Porém, ao levarmos o assunto adiante, indagando-os, se eles gostariam de conhecer, por exemplo, a França, certamente obteríamos um almejado “sim”. Mas, se os indagarmos sobre o motivo pela qual não visitaram esse país, receberíamos uma acanhada resposta, dizendo que não teriam dinheiro para tanto. Podemos então concluir: quem não tem dinheiro não é livre? Qualquer um tem a liberdade de escolher se visitará Tóquio, Dublin ou Paris, mas não a liberdade de optar por visitá-las, a menos que se tenha dinheiro?
Por analogia: não seria esse tipo de mentalidade que muitas pessoas, incluindo pais e até avós, estariam incutindo em seus filhos e netos? Sem conhecer a verdadeira definição da LIBERDADE? Que tipo de reflexo isso causaria em nossa sociedade presente e futura? Talvez crianças, jovens e adultos que acreditam ser livres o bastante para ferir os colegas de escola, pessoas do seu convívio a seu bel-prazer? Ou para cometer violências que nem sequer imaginamos ainda? Em nome da “famosa" liberdade!
Devemos, sim, valorizar, divulgar e semear a liberdade, mas com a nítida e clara noção da RESPONSABILIDADE que ela traz consigo. Lembrando sempre de que o princípio da liberdade é um direito inalienável, mas também limitado, por fatores sócio-econômicos pela sociedade ao se tratar de nossa capacidade em exercitá-la. Antes de hastearmos novas bandeiras e de deflagrarmos novas batalhas, devemos primeiramente descobrir qual tipo de responsabilidade desejamos.
Nesse período de férias escolares, e tempo de escolha dos nossos representantes, não é interessante REFLETIRMOS sobre a definição de liberdade que nutrimos dentro de nós e que ensinamos a nossos descendentes? Nosso futuro não depende apenas dos nossos direitos, mas também do dever de responsabilizar-se pela nossa liberdade.


Que Deus nos guarde na palma de sua mão.
contato:serighelli@uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário